domingo, 25 de agosto de 2013

FILHOS E AMOR






Dizemos amar nossos filhos.
Estive pensando nisto. Conclui, com um gosto amargo na boca, que amamos sim, mas de um jeito particular, que nem sempre é o melhor.
Falo baseada na minha própria experiência. Não generalizo.
Amo, pensava, porque me preocupo com eles, tento dar-lhes o que pedem ou que acho que necessitam, mas nem sempre o que precisam. Desculpo tudo e me culpo por tudo,. Sofro quando os vejo sofrer, pedindo a Deus que os poupe de tudo.
Não percebia que ao preocupar-me com eles, estou de certo modo dizendo-lhes que me tomam todo o meu tempo com esta pré-ocupação sem fim, sem deixar tempo para mim. Rimou. Ao dar-lhes coisas, tento compensar o que falta em mim... de amor sereno, receptivo, em vez de dador. Ao desculpá-los e culpar-me sempre por suas próprias falhas, roubo deles o respeito por si mesmos e a capacidade de se construirem e evoluirem a partir do reconhecimento de si mesmos. Ao sofrer por eles, roubo de suas vidas experiências que só eles podem passar e superar.
Na verdade, quero poupar-me. Quero que sejam felizes, bem resolvidos, serenos, para que me permitam ser feliz, bem sucedida e sossegada.
Na verdade, ao dar, tomamos. Ao desculpar, me sinto perdoada. Ao carregar as culpas dos filhos, livramo-nos da nossa de, em algum momento triste, mas não impossível, senti-los como um fardo pesado para nossos ombros despreparados. Ao nos preocupar, livramo-nos de ter de preencher com um significado maior nossas próprias vidas. Achamos um motivo para justificar nossa falta de motivação para tomar decisões que tornem nossas próprias vidas algo que faça com que viver valha a pena. Acabei generalizando ao dizer nós em vez de eu, talvez para não ficar sozinha nessa exposição do que sou.
Estive pensando... que o que eles querem, na verdade, é uma mãe mais feliz, mais apaziguada, mais leve.
Os filhos precisam, e aí posso generalizar, é de nossa alegria, não de nossas lágrimas; de nossa esperança, não de nosso desespero; de nossa fé, não de nossos medos; de nossa serenidade, não do peso de nossas culpas; de que nos sintamos gratos por existirem, não de sua gratidão por ter-lhes dado a vida; de ouvidos para ouvi-los, não de nossas bocas com respostas prontas e que, pretensamente, julgamos ser sensatas.
Os rios não precisam de quem oriente seu curso, mas de quem os contemple da margem com alegria.
Os pássaros não precisam de quem os ensine a cantar, mas de quem ouça seu canto e, talvez, possa cantar com eles.
Porque, quando amamos, somos naturalmente felizes e isto nos faz maiores e capazes de amar não só os filhos, mas, quem sabe um dia, toda a humanidade.

Vânia

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