sábado, 12 de maio de 2012

PARA MEUS FILHOS


           Uma coisa que eu sempre pensava: ‘a idade nos torna melhores, mais sábios e prudentes, mais amorosos e pacientes.’ Mas não é bem assim. A percepção, é claro, se amplia, talvez para compensar a visão física que se estreita. Nosso espelho já não nos ilude com a resposta esperada: ‘és a mais bela do reino’. Ou ‘és a melhor’ das mulheres. Torna-se impiedoso, menos em denunciar rugas, mais em revelar o que ‘não somos’. A consciência adquirida começa a relegar para segundo plano a vaidade e frivolidades.
         Então não nos tornamos melhores. Esforçamo-nos para ser. Esforçamo-nos para superar nossos defeitos, pois mais claramente os enxergamos. É isto.
        E mais. A sabedoria que, do alto do tempo já vivido, exibimos, talvez para compensar os defeitos descobertos e assimilados, não é tanta assim. Some diante do primeiro tropeço, contrariedade, rejeição. Reagimos com o adolescente ou a criança que ainda habita em nossas memórias, enquanto o adulto sábio em que pretensamente nos tornamos, horrorizado e confuso, ordena, com firmeza e doçura, ao eu pequeno que emergiu num repente de dentro de nós: ACALME-SE!
       A prudência ou sensatez aos poucos adquirida funciona como um anjo cuidador que, ciente dos aborrecimentos causados por atitudes impensadas, nos impede de tropeçar e cair, não só figurada, mas literalmente. Não somos mais tão firmes nem tão fortes e, depois de uns tombos, reconhecemos a necessidade de ajuda e chamamos por ele, humildemente, porque inseguros, sem questionar se ele, o anjo, existe como entidade ou não.
      A paciência... Ah! Esta em vez de aumentar às vezes diminui para nossa vergonha e desgosto. Continuo tão ou  mais impaciente. Isto por conta das limitações e irritantes dores nas articulações, etc. Fico no etecetera para não cair no laço de infindáveis queixas. Nisto sou prolixa e repetitiva. Eu sei.
      Tornei-me, em vez da adorável e paciente senhora que tanto queria ser, uma ‘quase’ velha ranzinza. Minha neta concordou com esta opinião sobre a avó dela, que sou eu, com uma delicadeza e tato, compensando-me com qualidades que ela, em sua empatia por mim, consegue enxergar.
      Posso não ter desenvolvido, como desejava, o dom maravilhoso da paciência. Mas disfarço bem, não com a intenção de enganar, e sim, por haver aprendido a ser mais gentil e cordial. Afinal gentileza gera gentileza. As pessoas mais velhas e maduras sabem disso. Por que ‘velhas e maduras’? Porque nem sempre o que é velho é maduro e vice-versa.
Bem... Toda esta conversa serve para dizer que estou me tornando ( pois não sei se já sou) uma senhora educada. Não murchei, amadureci. Estou amadurecendo. E assim estarei até o último minuto de minha existência.
      Quanto à amorosidade. Eu, pessoalmente me sinto mais amorosa.  Mais compassiva talvez. E compreensiva.  Mas não foi precisamente a idade que me transformou. Foi ela, a maternidade, que acordou estes sentimentos em mim. Assim... de repente, deixei de importar-me só comigo e passei a dar mais importância a vocês, meus filhos.
Deixei de ser prioridade.
Meus problemas existenciais, frustrações, carências, deixaram de importar, pelo menos, bem menos do que antes.
Vocês se tornaram a minha prioridade.
Na verdade, não creio que seja privilégio das mães a descoberta do amor. Há pessoas que nascem amando. Nascem mães. Algumas, se bem que raro, nem com a maternidade, aprendem a amar. No meu caso, funcionou.
De um jeito imperfeito, talvez não totalmente incondicional, aprendi a reconhecer o amor em mim.
Esta conversa comprida, que peca pelo excesso de palavras, adjetivos, advérbios e gerúndios, é só para simplesmente dizer: Amo vocês! 
Amo!
Muito!
Mãe.


Vânia - escrevi no dia das mães, no fim da tarde.









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