quinta-feira, 24 de outubro de 2013

CONVERSANDO COM CARPINEJAR SOBRE ESPERANÇA

"A generosidade vem da esperança, eu garanto."

Não sou sempre generosa. Sinto-me generosa às vezes, quando estou contente, quando me sinto segura,  amada e grata por alguma coisa de bom que me aconteça. Para ser generosa é preciso ter dentro de si  esperança, uma espécie de fé que se alterna com nossos humores e alegrias e dissabores.
Carpinejar diz que quem não tem esperança torna-se avarento, poupando a energia que tem, economizando como se estivesse em tempo de guerra, estocando alegria "no porão dos nervos" Não pode ofertar o que teme possa vir a faltar-lhe. É mesmo. E o que os sem esperança não sabem é que a pouca alegria que escondem para que não lhe seja arrebatada, não é verdadeira, mas um arremedo de alegria, um triste simulacro de algo que, por não terem esperança nenhuma estão longe de conhecerem.
"Começará a acender velas devido à luz cortada de seus olhos, passará a resmungar devido à voz falhada de sua boca."
Lindo, Carpinejar. Sem esperança, não enxergamos, não basta acendermos velas e lâmpadas de 100 wats. Sem esperança, nada temos a dizer, desaprendemos de cantar e perdemos toda a capacidade de encantar e nos surpreender. Envelhecemos e nos perdemos tateando na escuridão de nossas almas.

"O desesperançado deixa de fazer convites, restringe os favores, recusa sair, sonega a casa e visitas. Ele é uma ostra que se torna marisco – não tem brilho de pérola para chamar o mar."
"Não tem brilho de pérola para chamar o mar."
É bem isto. Nos refugiamos em nossas conchas, escondendo pérolas que talvez tenhamos em formação nos nossos centros vitais, sem que saibamos. Os convites ficam adiados, sem que, no entanto, deixemos de  ansiar por eles. Afinal, há um ser gregário em nós, eternamente em busca de sua tribo.
"A esperança é tempo de ser, véspera, ensaio."
Lembro da infância feita de vésperas: véspera de Natal, de páscoa, de aniversários, de viagens a passeio, de pic-nics no campo, de férias na praia com a família. Esperança era meu quotidiano. Magia era a cor na minha rotina.
"Sem esperança, não se luta por nada. A amargura decorre justamente da ausência de perspectiva."
Ausência de perspectiva é falta de motivação, e falta de motivação é ausência de esperança. É o que sinto às vezes, cada vez mais vezes, para meu desgosto por mim mesma. 
Sempre escutei dizerem: a esperança é a última que morre. E me pergunto: se é a última que morre é porque algo tem de morrer antes. O que é que morre antes da esperança? Uma parte de nós. Como dizem os xamãs: são partes de nossa alma que deixamos para trás em mundos paralelos. Algo morre em nós para que ela, a esperança, se erga triunfante. Morrem as ilusões insensatas (toda ilusão é insensata), morre o egoísmo, a imaturidade, o medo, a vileza, a ignorância, morre tudo que nos faz pequenos, para que possa nascer o que existe de maior em nós.

Morremos quando morrem nossas ilusões; renascemos quando nascem novas esperanças em nós.
A esperança é filha da fé, e a fé é nobre, é elevada.
 "Escreve nosso amigo Carpinejar: Alguém falido não dará bom-dia muito menos boa-noite.
Alguém isolado não pensará em ajudar uma velhinha a atravessar a rua ou carregar suas sacolas de mercado.
A esperança é educação. A esperança é tranquilidade." 
Esperança é sentir-se rico, pleno, tranquilo. É ela que nos torna educados, solidários, confiantes. 
"A esperança é perceber que por pior que seja aquele dia haverá outro totalmente inesperado.
A esperança é crédito." 
Crédito não vem de acreditar?
Acreditar nos faz deixar o controle de lado e rolar na correnteza, e rodopiar na ventania... sem medo. 

Quando temos esperança, surge " apenas a vontade de seguir em frente e procurar o lado do sol da calçada."

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