“Cada vez mais fios atravessam o horizonte, mas parece até que ninguém se importa. O olhar urbano já se habituou ao emaranhado que polui a paisagem. E, quando algum cabo se rompe, fica difícil encontrar o fio da meada.”
Eu me importo.
Meu olhar não se habitua,
Não.
Acaso o hábito de assistir ao que é feio nos torna insensíveis à
feiura?
Maria Inês Lobato, psiquiatra, disse que dá bem-estar abrir a
janela e avistar a paisagem limpa, em vez de obstruída por um monte de fios.
E ressalta que isto é muito importante.
Também acho.
Já me bastam os nós na minha cabeça que tenho de desembaraçar.
Já nos bastam os nós no poder público que ninguém consegue
desatar.
Os fios embaraçados nos céus urbanos já são um reflexo da confusão
em que vivemos.
Não é a estética um reflexo da ordem e harmonia de que se
necessita tanto?
Por que não enterram os fios? Porque um empurra para o outro a
decisão de fazê-lo.
O problema é o desinteresse e a acomodação e a irresponsabilidade
e sei lá mais o quê dos que não estão nem aí e que poderiam, se quisessem
realmente, fazer algo para beneficiar a cidade.
Seu Nataniel, aposentado, como eu, se aborreceu e reclamou e insistiu. Não sei o que conseguiu.
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