Dizemos amar nossos filhos.
Estive pensando nisto. Conclui, com um gosto amargo na
boca, que amamos sim, mas de um jeito particular, que nem sempre é o melhor.
Falo baseada na minha própria experiência. Não
generalizo.
Amo, pensava, porque me preocupo com eles, tento
dar-lhes o que pedem ou que acho que necessitam, mas nem sempre o que precisam.
Desculpo tudo e me culpo por tudo,. Sofro quando os vejo sofrer, pedindo a Deus
que os poupe de tudo.
Não percebia que ao preocupar-me com eles, estou de
certo modo dizendo-lhes que me tomam todo o meu tempo com esta pré-ocupação sem
fim, sem deixar tempo para mim. Rimou. Ao dar-lhes coisas, tento compensar o
que falta em mim... de amor sereno, receptivo, em vez de dador. Ao desculpá-los
e culpar-me sempre por suas próprias falhas, roubo deles o respeito por si
mesmos e a capacidade de se construirem e evoluirem a partir do reconhecimento
de si mesmos. Ao sofrer por eles, roubo de suas vidas experiências que só eles
podem passar e superar.
Na verdade, quero poupar-me. Quero que sejam felizes,
bem resolvidos, serenos, para que me permitam ser feliz, bem sucedida e sossegada.
Na verdade, ao dar, tomamos. Ao desculpar, me sinto
perdoada. Ao carregar as culpas dos filhos, livramo-nos da nossa de, em algum
momento triste, mas não impossível, senti-los como um fardo pesado para nossos
ombros despreparados. Ao nos preocupar, livramo-nos de ter de preencher com um
significado maior nossas próprias vidas. Achamos um motivo para justificar
nossa falta de motivação para tomar decisões que tornem nossas próprias vidas
algo que faça com que viver valha a pena. Acabei generalizando ao dizer nós em
vez de eu, talvez para não ficar sozinha nessa exposição do que sou.
Estive pensando... que o que eles querem, na verdade,
é uma mãe mais feliz, mais apaziguada, mais leve.
Os filhos precisam, e aí posso generalizar, é de nossa
alegria, não de nossas lágrimas; de nossa esperança, não de nosso desespero; de
nossa fé, não de nossos medos; de nossa serenidade, não do peso de nossas
culpas; de que nos sintamos gratos por existirem, não de sua gratidão por
ter-lhes dado a vida; de ouvidos para ouvi-los, não de nossas bocas com
respostas prontas e que, pretensamente, julgamos ser sensatas.
Os rios não precisam de quem oriente seu curso, mas de
quem os contemple da margem com alegria.
Os pássaros não precisam de quem os ensine a cantar,
mas de quem ouça seu canto e, talvez, possa cantar com eles.
Porque, quando amamos, somos naturalmente felizes e
isto nos faz maiores e capazes de amar não só os filhos, mas, quem sabe um dia,
toda a humanidade.
Vânia
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