sexta-feira, 13 de abril de 2012

CONTEMPLAÇÃO






O que é contemplar?
Passeio meu olhar inquieto sobre a superfície das coisas. Não mergulho nelas. Apenas sigo o contorno de seus aparentes limites. Tenho pressa...
Para contemplar é preciso sossegar o olhar, desconversar.
Quando não consigo calar a mente, esta que, desde que descobriu as palavras, pôs-se a tagarelar, sem parar, interrompendo essa algaravia de sons e ruídos dentro de minha cabeça:
"Para! Sossega! Deixa que ela vá na frente. Distancia-te dela, ficando para trás. Deixa que ela vá, repetindo o cordel de ideias fixas que inventou e assimilou até tornar-se um murmúrio e depois... no silêncio, deixa-te ficar...’
A mente quer saber o porquê das coisas: Por que isto? Por que aquilo? Se mete em tudo, até no coração, que apenas sente. Quer explicações, até para o amor, que é inexplicável. Julga, analisa, opina, atrapalha o olhar que é influenciável.
 Descobri uma coisa em minhas recentes e nem sempre bem sucedidas tentativas para meditar, deixo que o objeto contemplado me absorva, me fale de si mesmo para um lugar em mim capaz de ouvir e ver.
Tento ver  e ouvir como se fosse a primeira vez.
Na contemplação, surpreendo-me, fico extasiada. A rotina se transforma em novidade, O já visto tantas vezes vira inusitado. E contemplar torna-se uma redescoberta do objeto contemplado e de si mesmo. Por que quem contempla o que está fora, descobre o que está dentro. Descobre-se.
Neste escasso espaço de tempo em que me tornei contemplativa, descobri que me tornei mais atenta. Menos distraída, Mais alerta e, no entanto, pacificada.
Mas este é apenas o começo.
Ainda não me aventurei no deserto. Contemplo confortavelmente instalada nas dunas de meu sono leve, cheirando a amaciante.
Ainda assim é um começo.

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