Ele chega depressa demais. Recebo sua estranha visita, apressada como uma lufada de vento. Não senta para descansar e, quando senta, equilibra-se na beira da cadeira, pronto para levantar.
Quero lhe falar sobre os efeitos devastadores que tem sobre mim, mas não presta atenção às minhas reclamações, sobre as perdas que ele me traz. Recebo sua total indiferença, alheio que está sempre a meus problemas menores.
“Dê um sentido a sua vida”, parece dizer, “não espere que eu pare por você.” E levanta e sai tão depressa quanto veio. Em desespero, corro atrás dele, que me aconselha a não fazê-lo, pois será inútil.
Ele é cruel... e me deixa a contemplar minha imagem desbotada no espelho com total desolação. Aquelas marcas, manchas e vincos, quando foi que imprimiu em minha pele? Tudo culpa dele, com sua eterna pressa.
Desisti de tentar segurá-lo. Ele me escapa das mãos. Parece-me quase invisível, sem corpo, tanto que chego a duvidar de que exista. Ao mesmo tempo é denso e pesa sobre mim. Ainda assim não posso ver como ele é realmente, pois em sua rapidez, capturo apenas a imagem borrada de certas imagens fotografadas em movimento acelerado.
Fazer o quê? Amanhã vou ancorar-me no que sei ser real: minha existência do jeito que é. Em mim buscarei meu amparo, meu repouso, minha aceitação. Sentarei à janela, distraída em lembranças contentes, e talvez eu nem perceba sua passagem pela rua.
O tempo já não me surpreende mais.
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