PIANO... PIANÍSSIMO
Fico a pensar em meu piano. E meus dedos tamborilam no ar acima de meus joelhos. Sinto falta, apesar de saber que não tinha talento. Este era compensado apenas por um certo arroubo e sensibilidade como me disse minha professora, referindo-se a minha falta de disciplina e dedicação.
Um dia após outro, foi ficando cada vez mais o piano de lado. Ou porque não tinha além de talento, vontade e persistência, ou porque (e acho que a principal razão era mesmo esta) eu sempre chorava ao tocar. A música me fazia lembrar; lembrar me fazia chorar; chorar me deixava mais triste ainda, insuportavelmente triste. Então desisti. E, naqueles dias, à falta de talento, tristeza e uma tremenda falta de auto-estima, somou-se um verdadeiro terror de falhar.
Depois descobri que o nome disto era fobia. O piano passou a ser prateleira de porta-retratos, vaso de flores, enfeite na sala. Antes que o inço do tempo e a hera o cobrissem, desisti dele e ele de mim. Chopin,um dos meus preferidos também tinha lá suas fobias. E eu sempre pensei que os talentosos não soubessem o que era isso.
Frase dele: “Eles gostariam que eu desse outro concerto, mas não tenho nenhum desejo de o fazer. Vocês não podem imaginar a tortura que representam para mim os três dias antes de aparecer ao público.”
FRÉDÉRIC CHOPIN
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