domingo, 17 de novembro de 2013

MÃE É UM SER COMPLICADO




Mãe é um ser complicado.
Quando quer ajudar, na ânsia que a move, se intromete; quando não se mete, sente-se culpada por não ter feito nada. Não consegue manter a distância devida, respeitar os limites que parece tão fácil com estranhos.
Talvez porque ainda esteja ligada por cordões umbilicais invisíveis, que não podem ser cortados por isso mesmo: por serem invisíveis.
Um olhar do(a) filho(a), "nublado", e ela já ‘enxerga’ por trás das ‘nuvens’ o que talvez só exista em sua imaginação fértil.
Quando o filho(a) avisa que está chegando, sente-se eufórica, faz planos, tanto que, ao chegar, está derreada, exausta, e, para seu espanto, meio desanimada, parecendo infeliz. Tanto que chega a suspeitar que ‘uma energia intrusa” roubou-lhe a que tinha, pelas portas escancaradas de seu corpo astral desavisado.
Ninguém entende que, de tão feliz que estava, acabou ficando triste. O corpo é assim: reage inesperadamente, vítima de emoções meio doidas.
Pode ser, mas os anos de terapia, especialmente a última consulta, me alertam também para algo sobre a qual reflito agora: a intimidade.
“Para haver amor tem de haver intimidade”, disse-me o terapeuta. 
Intimidade exige mostrar-se como se é, dizer o que sente, ainda que o outro não goste, sem receio de que, por isso, na mais absurda das hipóteses, ele ou ela deixe de gostar de você ou você dele, o que é impossível, pelo menos para mim, quando ele reagir e discordar de você. Intimidade é uma coisa que acalma apesar de nos mostrar como somos: menos gentis, menos solícitos, mais egoístas, mas verdadeiros, "demasiado humanos".
O medo de desagradar que me acompanha desde criança, infelizmente, estendeu-se até os meus filhos. Um olhar "anuviado", sujeito a interpretações as piores, e já me encolho ou me ouriço. Pena! Pois assim que eles saem pela porta, me entristeço pelo que eu disse ou pelo que deixei de dizer, pelo gesto contido ou desastradamente emocional .
Intimidade... a palavra assusta, porque nos expõe de tal forma como fios desencapados, vulneráveis. Não querendo sofrer terminamos por sofrer mais do que é preciso.
E no entanto é simples. Basta não formar expectativas. Não tentar controlar o que sentimos e, menos ainda, o que os outros sentem. 
Basta abrir a porta e dizer: Vai entrando, a casa é tua e o coração também. Um simples abraço, sem muitos salamaleques, e pronto. Ah! E um detalhe, não abrir mão da cama ou da cadeira preferida, ou da soneca que, se dispensada, me põe de mau humor. Afinal de contas, se eu quiser deixar o filho(a) à vontade, tenho de estar também. 


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