Carlos Drummond de Andrade disse ou escreveu mais ou menos assim:
“Não me considero um escritor.
Sou apenas uma pessoa que escreve.
Que começou a fazê-lo para cuidar das
necessidades da alma.
Como uma psicoterapia sem divã."
Quando escutava um bebê chorando alto, eu pensava: Por que ele tem de berrar? Agora sei por quê.
É porque não sabem falar. Reclamar em voz baixa é impossível, pois não se comunicam ainda usando a palavra. Argumentar muito menos. Então berram. Gritos todo mundo ouve, mesmo sem entender. E alguma coisa é feita, até que se descubra o que o bebê quer e, para alívio de todos, ele se acalme.
Dizem que fui um bebê chorão. Ninguém me aguentava. Como devia ser sofrido para mim não ser compreendida.
Daí que, depois que aprendi a falar, não parei mais. Na maior parte das vezes, falava sozinha, com uma amiga inventada, uma versão mais velha, mais inteligente emocionalmente, de mim mesma. Eu gostava muito dela, pois sempre me ouvia e jamais me deixava sem resposta.
Só mais tarde descobri que ela e eu éramos a mesma pessoa.
Seu nome era Nina (não sei por que o escolhi, talvez por ser uma forma diminuta de menina).
Hoje entendo minha paixão pela palavra escrita. Ela não pode ser interrompida, a não ser por uma pausa na leitura.
O pensamento é meu divã. E de que é feito o pensamento senão de palavras que, unidas, tecem uma colcha de retalhos que compõem, numa unidade mais ou menos integrada e harmonizada, aquilo que sou.
Estive pensando em fazer algum trabalho do tipo:
A Escrita como terapia.
Formar um grupo de ajuda
para quem quiser e precisar,
como eu um dia precisei.
Quem sabe?...
A palavra impronunciada, muitas vezes, pode ser comparada com um pássaro a debater-se contra as vidraças na janela. Não entende, o pássaro, que a transparência do vidro possa ser uma barreira intransponível para o vôo no mundo lá fora.
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