PEDRO
Prenome?...
Pregunta o quê?
O nome, falou o padre.
Despreocupado Pedroso,
Na premência pronunciou:
Pedro... Pedro Pedroso.
E assim Pedro se chamou.
Sem pedologia (ou pedagogia)
Como o nome predizia:
Muita pedrada levou.
Com pedregulho brincava
Num leito seco de rio,
Fingindo que era mar.
Nascido entre as pedras,
Brincando com pedras,
Brigando com pedra na mão,
Sem prédica, sem sermão,
No sertão Pedro cresceu.
Mas sempre sonhava
Em brincar na preamar.
E colhia pedregulho,
(sonhando que eram conchas),
(sonhando que eram conchas),
E fingia dar mergulhos
No rio seco, de pedras
(fingindo que eram
ondas,
Sonhando que era o
mar).
Despreparado, desprecatado.
Em desapreço, o preço
De crescer num pedregal,
Pedro tão logo aprendeu.
Cedo, a alma depredada
Teve Pedro, pois o pai,
Quase sempre sem emprego,
Na preguiceira pregado,
Espreitando o chão empedrado,
De preguiça ou “depressão”,
( coisa muito estranha
então)
Despercebido, da vida
Depressa se desprendeu.
E Pedro que então pensava
(ser o céu um mar
imenso,
Uma praia de areias
brancas,
Pedia pra ir também).
Da mãe guardou para sempre
O olhar preto, profundo,
Sem prazer nenhum no mundo.
A trabalhar todo dia,
Adentrando pela noite,
Com o pé na premedeira
E a mão na pregueadeira,
O rosto todo pregueado,
Com mais pregas que as pregas,
Que com sua mão tecia.
Talhada em pedra, tal e qual
Pedra de toque, pedernal,
De pedra
Em pó se desfez.
Pedro sem sequer chorou.
Naquela terra infernal,
Onde só pedra chovia,
Endurecia até lágrima
Qual pedregulho miúdo.
E Pedro
E pedra se fez.
Mas nunca deixou de
sonhar.
À noite tinha visões
De prados tão
verdejantes,
Com ramas longas,
ondeantes,
Como as ondas do mar.
Foi pedreiro
Em pedreira,
Muita pedra carregou.
Procurou pedra preciosa,
Até que em pedra de lei,
Afiando alma e navalha,
Pedro venceu a batalha.
Nessa estrada pedregosa
Era Pedro um pedreste,
Mais um no caminho agreste.
Este sem, diria Drummond:
“Tinha uma pedra no meio do caminho.”
E sem apreender a poesia,
Pedro que nem mesmo lia,
Diria com o poeta também:
_No meio do caminho tinha uma pedra.
Tinha não: tem. Como tem.
Mas Pedro
Ainda pedia,
premente de amor,
que um dia
alguém surgisse,
e Maria
qual pedra de cantaria,
cheia de prendas
e rendas,
que com seu tear tecia,
Pedro Pedroso prendeu.
Qual pedra de raio caída,
De surpresa em sua vida,
Foi que Pedro amou Maria.
E pedra sobre pedra,
Trazida da pedranceira,
Preparava pra Maria
Uma casinha de pedra.
À noite, cansado, Maria premia
E, no abraço,
O cansaço
do dia
esquecia.
Maria, já prenhe,
Mais linda, chamava
A menina que viria:
Luzia.
Prenome?
Pregunta o quê?
O nome, falou o padre.
Olhou Pedro pra Maria,
Que uma santa parecia.
Olhou pra imagem de pedra,
Que também era Maria,
E, baixinho, em tom de prece,
Pedro o nome pronunciou:
Maria...
Foi assim que em certo dia,
Em certo lugar no sertão,
Em chão incerto de pedra,
Do amor
Uma flor
Brotou,
E
entre pedras cresceu,
Bonita que nem Maria,
E como Pedro fazia,
Sonhava longe,
distante,
Com lugares
verdejantes,
Tão bonitos, junto ao
mar.
Nenhum comentário:
Postar um comentário