Iman Maleki |
Quanto aos ressentimentos? Fazem
mal é claro. Todo mundo sabe.
Desabafar com alguém, alivia
um pouco, mas ele, o ressentimento não some. Às vezes até reaviva, como uma
brasa que ativada por um sopro se transforma em chama novamente.
Um bom ouvinte ajuda. A
empatia já é suficiente. Mas nem sempre.
Quantas vezes ouvimos - “
Esquece... Tem de esquecer e virar a página. Tocar para a frente.” - Fácil
assim... Mas a memória, que com o tempo
enfraquece, é zelosa, no entanto, em guardar ressentimentos. É uma acumuladora
compulsiva e teimosa. Obsessiva e punitiva. Só que pune o queixoso, não o
causador das queixas.
Não dá para esquecer. Não
porque se queira lembrar. Simplesmente porque ele, o ressentimento, não obedece
a nossa vontade. Pertence à memória.
Os mais bem intencionados
dizem “Perdoa”. Mas é preciso para isto elevar-se acima de nossa condição
humana, dominada ainda pelas fixações mesquinhas. Quem está vulnerável está
‘por baixo’. Não alcançou dimensões mais altas, onde a mágoa não tem vez,
porque lá não existem os que magoam nem os que são magoados. Todos são justos e
têm uma ética acima de qualquer lei inventada pelo homem. Lá, na tal dimensão
que vem depois desta, não existem leis, nem regras, porque não precisa. Não há
necessidade de transgredir. Haverá um lugar assim ou são delírios de quem, como
eu, sonhadora incurável, aspira por isto?
De qualquer forma, não é onde
habitamos. Este é um mundo de humanos e desumanidades.
Então o que fazer com o
ressentimento? Ignorá-lo é impossível. Ele é a sombra que carregamos. Por uma
pá de terra em cima não dá. Não podemos enterrar o que está vivo e pulsando
dentro do peito. Absolver quem nos magoou? Para absolver é necessário
julgamento e um culpado. Mas quem somos nós para julgar?
Volto à ideia do perdão...
mas não como absolvição, nem como um ato de amor e bondade, para o qual nosso
coração nem sempre está pronto, mas como doação.
Per doar pode significar
‘doar para’. Oferecer não para outro o peso de nossa dor, mas sim oferecer ao
Universo (ou Deus) a dor que sentimos para que faça com ela o que for melhor.
E assim absolvemos a única
pessoa que podemos libertar, a nós mesmos, deixando espaço em nosso coração
para a leveza.