"O normótico padece de falta de empenho em fazer florescer seus dons e enterra seus talentos com medo da própria grandeza, fugindo da sua missão individual e intransferível. Quando temos necessidade de, a todo custo, ser como os outros, não escutamos nossa própria vocação".
Cheguei à assustadora conclusão que fiz parte deste bando de normóticos até quase agora. Enterrei meus talentos e, o pior, é que não sei onde. Cavoco, cavoco e não encontro aquela que eu seria se não tivesse negado quem sou.
Onde está o sentido de minha vida?
Se não sou eu mesma, quem serei então?
E meus talentos? Que ventos levaram?
Em que me tornei, se não sou quem sou?
O céu está de uma cor só
cor de pó,
cor de poeira.
Penso que todas as respirações
se juntaram
e num suspiro único e abafado
cobriram o céu
de cinza.
Um chuvisqueiro cai
tão lento
e indeciso
que não chega a molhar.
Ainda tenho na testa o suor
de ontem.
E na lembrança
o calor abrasador do verão.
Anseio pelo alivio
do frio
que não chega.