domingo, 26 de agosto de 2012

VER E CONTEMPLAR.



Ver, observar e contemplar são coisas diferentes.
Pode-se ver sem ver, distraidamente.
Quem observa, vê mais atentamente. Presta atenção. Vai além dos contornos, além da superfície.
Contemplar é mais. É ver ‘com’...
COM + TEMPLAR.
Procurava o significado de ‘templar’. Não encontrei. Procurei então “templo”. Diz:
Lugar descoberto e elevado, consagrado pelos augures, entre os Romanos. .........  Lugar misterioso e respeitável. Recordação perene das ações memoráveis.”
Encontrei também: “Olhar atentamente, embevecidamente e demoradamente; admirar, apreciar: contemplar as estrelas no céu.
Meditar em, refletir.
Levar em consideração.v. t."
Então...
“Contemplar” é um ato que se realiza ‘com’ o coração, atentamente sim, mas sem se perder nos detalhes, desprovido de crítica; embevecidamente, com respeito, consideração e amor. como se estivéssemos em um templo e o ‘objeto’ contemplado, algo sagrado.
A partir daí defino contemplar como: ‘Olhar do alto de um lugar descoberto, elevado, misterioso, em nós mesmos, no “templo” de nosso coração.’


quinta-feira, 23 de agosto de 2012

SABER E FÉ

Montagem feita por mim. A foto resultou de um defeito da máquina, uma antiga, não lembro o nome.

Saber é diferente de crer.
Crer é uma alternativa para aquilo que não sabemos.
Para saber precisamos conhecer, compreender, comprovar.
A fé basta a si mesma. Não precisa de respostas. É ela mesma a resposta para os que têm a graça de possui-la.
Para alguns, creio, é fruto da vontade, do esforço e da necessidade; para outros, os puros de coração, é consequência de uma confiança inabalável, e ainda há os que nasceram com a graça de crer. Pairam acima da dúvida, na luz. Talvez eles não apenas creiam, mas saibam. Sabem o que nós, os não portadores da Graça, não imaginamos.
Não sei e não sei se creio, pelo menos não no que tenho aprendido por aí. Não tenho dons, nem confiança irrestrita... graça muito menos. Resta-me a esperança, a vontade de crer.
Kant escreveu: “A fé é uma crença que é suficiente apenas subjetivamente” (teoria do método II, 3).
Portanto não satisfaz aos que não basta a subjetividade.
Os buscadores da verdade tropeçam na dúvida. Hesitam entre uma verdade e outra.
Não que a verdade não exista ou seja relativa. Ela é. Ponto. Só não sabemos. Pelo menos eu não. Assim como o Amor. Ele é. Mas não o alcançamos. Nem nossos amores relativos nos dão uma pálida ideia do que ele seja. Assim como Deus. Ele é. Mas não o conhecemos. “Se conhecêssemos Deus, já não precisaríamos acreditar nele.”
Talvez a fé tenha sido inventada pela esperança que transformou seu objeto em verdade.
André C. Sponville em Dicionário Filosófico diz que “a fé é como uma utopia metafísica e que a fé nutre-se tão-somente da ignorância do seu objeto.” Será?
Não sei. Reconheço que preciso esvaziar minha mente de ideias, as inúteis pelo menos, e deixar a janela aberta para a luz entrar. A fé quem sabe?
Kant reconheceu que “teria de pôr de lado o saber a fim de obter um lugar para a fé.”

 Se ele pôde, por que não eu, com tão pouco de saber que acumulei?   
Montagem feita por mim de uma pintura de Leonid Afremov e uma foto de minha filha Liseane.

Em sépia