domingo, 28 de agosto de 2016

MENINA







Sou cântaro vazio
És fonte menina

Água benta cristalina
Que abençoa meu viver

És sim como a água pura
Que sacia a minha sede
Que me renova e me cura
E me faz de novo crer.

Sou um cofre vazio
És meu ouro, o tesouro
Que me basta pra viver.

Sou a terra ressequida
És a flor de minha vida
Flor do campo, mais cheirosa
És minha menina rosa
Que em meu coração nasceu.

És meu caso
O mais sério
Dos meus casos sérios
De amor

Na minha noite
Azul cobalto
Te vi descendo
Do alto

Vestida de luz menina
Feito estrela matutina

Me trazendo o amanhecer.

VISITANTE DO DIA



Passa do meio dia.

Eu o espero,
pois amanheceu claro e bonito.
Sei que vem.

Vem silencioso,
Desenhando  claridades
Recortando rendas
Em meu quarto azul.

E se esparrama
em minha cama
Para o cochilo
Costumeiro da tarde.

Convida-me a deitar junto dele.
Digo que não, relutante,
Tentada pela  quentura
Suave da coberta ao toque
Do olhar.

Digo que não.
É preciso estar atenta
Para que o momento mágico
Não escape de meus olhos
E o anoitecer não me surpreenda
Antes que ele,
Meu visitante da tarde,
Se vá ... mais uma vez.


Em uma tarde de sol, depois das doze horas, quando maio já termina.

segunda-feira, 15 de agosto de 2016

VENTOS


Gosto de vento,
de leveza e
transparências.

Lenços de seda
Vestidos de renda
Laços de organza
Cortinas de voile

Dosséis de filó...
Ah!
Brincávamos com eles
Fazendo de conta que eram véus de noiva,
As cortinas, cabeleiras que o vento despenteava.

E o vento levou
o sonho...
Nuvens esfarrapadas
Desfiadas pelos galhos secos das árvores no inverno.


Mas ainda gosto de leveza
E transparências.
Palavras suaves,
Que tenham sons leves,
E não arranhem meu dia.

Cortinas transparentes
Que cubram meus olhos cansados,
Que disfarcem os duros contornos
Da vida,
Mas não me impeçam de olhar
Atentamente.

16 de agosto



CAMINHOS DE CHUVA



Caminhar na estrada em dia de chuva não deixa marca. A água leva e lava.


quinta-feira, 11 de agosto de 2016

LILIPUTIANOS


Quando eu era criança tudo me parecia enorme. A casa onde cresci. O pátio (e este era mesmo). A cidade. Os adultos. E o mundo... este era o próprio Universo, não esta bolinha pendurada no céu, infinitamente pequena como um átomo de meu corpo. 
Eu me sentia como Gulliver na terra dos gigantes em Brobdingnag.
E o tempo? Se arrastava, imperceptível como a Terra ao redor do sol.
Cresci ou o mundo encolheu? 
Parei em uma curva, enquanto o tempo passou por mim acelerado, deixando em mim essa estranha sensação de urgência? 
E os homens grandes em quem eu confiava só porque eram grandes. Onde estão os grandes homens em que eu acreditava quando era criança?
Ou são minúsculos como os liliputianos de Gulliver? 
E eu? Encolhi também, enquanto meu olhar cresceu?

Hoje, às 10 horas.