terça-feira, 30 de abril de 2013

LEMBRANÇAS





Esfria...
O dia se recolhe mais cedo
enrolado em nuvens de algodão.

Homens pequenos,
Ao entardecer,
Projetam sombras longas,
Se agigantam,
Do tamanho do olhar das crianças,
Assombrando-as.

Algumas se refugiam
Nos colos das mães,
Outras correm para dentro de seus próprios porões.

Eu estremecia
De frio e temor.

Hoje não...
Cresci e eles assumem as devidas dimensões.

As folhas no chão,
Estalam
Sob os passos pesados de lembranças .

Lembranças que se desprendem
Ressequidas,
Algumas ainda lindas
Em seus tons de magenta e ouro.
Lembranças

Que o vento espalha.
E o velho do tempo
recolhe e vai
arrastando em seu saco de memórias.


segunda-feira, 29 de abril de 2013

ATRAVÉS DE MINHA JANELA.


Quando falo dessas
pequenas felicidades certas,
que estão diante de cada janela,
uns dizem que essas coisas não existem,
outros que só existem
diante das minhas janelas,
e outros, finalmente,
que é preciso aprender a olhar,
para poder vê-las assim.

(Cecília Meireles)

De minha parte, crio minha própria paisagem.
Meu olhar tem asas e cria a beleza com o material mágico dos sonhos.





quinta-feira, 18 de abril de 2013

FILHA



Minha filha feita de luz, 
Parte da grande luz 
A que chamamos Deus.

O espírito que te habita,
Anterior a teu corpo físico,
Este que te veste tão lindamente, 
É desde sempre luz.

Mesmo que ora caminhes
Por caminhos de sombras,
E teus passos
Se percam em descaminhos,
Pois a vida não põe tabuletas com avisos,
A luz no centro de teu coração divino
Te há de guiar por onde fores.

Não busca orientação em tua mente,
Quando estiveres cansada.
Ela desorienta e aumenta teu cansaço;
Nem em conselhos de quem não vive tua experiência única.
Eles podem estar equivocados,
Pois tomam por base suas próprias vidas,
também às vezes equivocadas.

Acende teu olhar interno
E, com a luz em teu coração,
Terás a resposta.

Não pensa demais,
Que o pensar cansa
E reduz a capacidade de pensar bem.

Não sente demais,
Que o sentir desgasta
E leva a atitudes que ferem e nos ferem também.

Ouve com cuidado teus sentimentos,
Que também enganam.
Estes pertencem ao coração apenas humano,
São teus e dos que antes de ti vieram
Na trilha dos teus ancestrais.

O Coração que precisa ser ouvido
É o cálice sagrado
Que transborda de uma sabedoria,
Emanada direto da Fonte
E nenhum conhecimento humano ensina.

Abre este Coração.
Fica atenta.

Deixa a tua luz brilhar
E te sussurrar a resposta
No silêncio deste coração-cálice sagrado que há em ti.

A resposta não trará paz externa.
Ela vai trazer ‘a espada’
não somente a paz.
Ainda assim, livre da dúvida,
Vai te conduzir para dentro de ti mesma,
Onde repousa a paz inalterada,
Que não é privilégio dos passivos,
Pretensos pacíficos,
Mas dos que ousam, sem erguer a voz.

Com amor
Tua mãe.

sábado, 13 de abril de 2013

CLARIDADE



Entre as copas das árvores  abrem-se pequenas clareiras,
Intervalos entre as sombras 
por onde a luz escorre.



Poças de claridade aqui e ali
desenham-se no chão de terra, 
Pinceladas de luz e sombra,
marrom e dourado,
ainda úmidas
de cintilações,
traçam um desenho curioso
na tela ocre
e rugosa.

Acompanho maravilhada
O rendilhado abstrato,
Formas e tons se recriando
De instante em instante,
Acompanhando o movimento lento
do passar das horas.

quarta-feira, 10 de abril de 2013

RECONHECIMENTO



Em "O Lobo da Estepe", Herman Hesse escreveu:
"Só no seu íntimo existe aquela outra realidade pela qual você anseia. Não posso lhe dar nada que não exista dentro de você. Não posso abrir-lhe outra galeria de quadros além da sua própria alma."





De fato, creio que ninguém, além de de não transmitir nada que não tenha em si mesmo, não pode também ensinar aos outros o que eles não possam compreender. Tem de haver a receptividade, a abertura necessária para que se estabeleça a sintonia de almas. 
Ninguém pode ver com os olhos do outro, pensar com a mente de outro, sentir como o outro, a não ser que tenha em si a mesma predisposição. Por isso, fórmulas de bem viver não surtem efeito na maioria das vezes, podendo até mesmo frustrar ainda mais. 
Quando alguém nos diz ou lemos algo que nos toca profundamente, é porque já estava, como uma semente, dormitando em nós, pronta para germinar. Quando não há ressonância é porque quem fala e quem ouve vibram em frequências diferentes. Então é preciso respeitar o espaço e o tempo de cada um.

sexta-feira, 5 de abril de 2013

ESCUTAR




"Escutar é uma arte extremamente difícil. Isto, porque... estamos cheios de ciência, de ilustração; temos lido demais; nossos preconceitos são sobremodo poderosos; nossas experiências são como muralhas que nos circundam; e através desses preconceitos, do cimo dessas muralhas, tentamos escutar. Será possível prestar ouvidos a qualquer coisa, se a nossa mente não está, ao menos temporariamente,...sempre conferindo o que ouviu com algum conhecimento já traduzido e interpretado por todos nós?
... julgo que essa é uma das coisas mais necessárias e essenciais que nos cumpre fazer, que vós e eu devemos fazer.... Não deveis traduzir o que digo, não deveis interpretar o que digo... porque quando assim procedeis pondes fim ao pensar.... parastes de pensar, cessastes de ouvir... e isto... limita o pensamento e o impede de penetrar mais longe, mais no fundo... se ao que estou dizendo atribuis autoridade, nesse momento parais de pensar. Cabe-vos investigar."

Trecho do livro: Quando o Pensamento Cessa ( conferências realizadas em Madrasta, Índia, ano de 1952) de Jiddu Jrishnamurti