sábado, 29 de dezembro de 2012

PARA ESCUTAR A VOZ DE DEUS


A voz de Deus sussurra no silêncio
Sopra onde nem o vento ousa atravessar.
Vibra em uma oitava mais alta
Inalcançável.

A voz de Deus se eleva acima do ruído,
Acima do clamor da voz humana,
Além do que o pensamento pode formular
E que mente alguma sabe interpretar.

Até que a porta do coração se abra
Para a entrada no Coração do Grande Silêncio
Nada será ouvido além do que se pensa ouvir.
E tudo que se pensa é criação humana.

Até que o coração possa ser sossegado
Sem interferência do pensar demasiado
E do sentir demasiado,
Então ele, o coração, se torna receptivo,
Como o cálice sagrado,
À voz de Deus.

sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

A VOZ DE DEUS SUSSURRA NO SILÊNCIO


              Não é necessário ser religioso para afinal entender que a fé, esta sim, é uma necessidade.
            É preciso crer, o que não significa ter uma crença, no sentido de pertencer a um grupo religioso.
            Às vezes me pego entrando em uma igreja, na hora em que não há missa sendo realizada, em busca de silêncio em um lugar onde imagino haja boas vibrações.
           Acordei hoje mais serena, com uma frase na cabeça: 
           A voz de Deus sussurra no silêncio. Por minha conta acrescentei : a voz de Deus é suave e para ouvidos atentos.
           No livro ‘Haja Luz’, que no momento tenho à cabeceira, encontrei o seguinte:
“O discípulo atento deverá reconhecer a necessidade de permanecer em silêncio, algumas vezes durante o dia, de modo que a energia, instruções e irradiações da Presença Divina ‘Eu Sou’ possam descer a seus corpos inferiores e à mente externa.”
          Comenta a seguir que, principalmente no mundo ocidental, vivemos absorvidos pelas circunstâncias e exigências do momento. Não temos tempo para ‘ficar em silêncio’, condição indispensável para entrar em contato com a Presença Divina em nós.
          É preciso muita disciplina e manter a atenção desperta para que o contato se faça, é o que é dito no livro citado. Para isto deve-se acalmar a energia do corpo mental, conseguir a ‘bonança do mar revolto que é o corpo emocional’, impedir que os erros do passado venham à tona e educar o corpo físico.
         
        A oração pode ser repetida incansavelmente, mas, sem que haja repouso e sossego na mente e no coração, não serão alcançadas vibrações mais elevadas. Será como um sino que ressoa inutilmente, pois, distante do coração, não se faz ouvir.
       “Numa verdadeira ‘entrada no silêncio’ não pode haver constante intromissão da atenção externa. A consciência tem de permanecer serena.”
      “É difícil fazer os exercícios espirituais em silêncio e conservar os corpos inferiores no mais completo repouso para que os benefícios possam ser obtidos.”
       É difícil manter a atenção necessária sem dispersar. E entregar-se a uma agradável sonolência não significa que estamos verdadeiramente meditando. Sonolência e repouso não são a mesma coisa. Assim como ficar calado não é o mesmo que entrar no silêncio do próprio coração. Por isso a disciplina é necessária.
        É preciso muita paciência e perseverança, atributos que ainda não alcancei. Então, como posso falar de disciplina e meditação, se não aprendi ainda a fazer isto? Por isso mesmo. Se fosse perfeitamente disciplinada e soubesse meditar de verdade, não sei se estaria ocupada em falar e escrever e ler sobre o assunto.
        Falamos sobre e buscamos o que nos faz falta.
        É de paz que precisamos. E de amor. Quem tem um tem o outro.
        É o que desejo a quem me visitar: Paz e Amor.


domingo, 23 de dezembro de 2012

VIAGEM A UM TEMPO ONDE HABITEI UM DIA


Ontem o tempo se desenrolou tão lentamente, como se desdobrado por velhas mãos cansadas. 
Fui dormir, grata pelo sono que não se deixou esperar. Veio logo, fosse o que fosse que me perturbasse. É uma bênção, que ainda me é concedida aos sessenta e seis anos, adormecer tão facilmente.
Não lembro dos sonhos. Entrecortados, não lineares, um quebra-cabeças cujas peças não se encaixam ou ficam faltando, que desisti de interpretar ou montar. Sei apenas que, neles, há sempre uma casa, não a mesma em todos eles, mas uma casa, com muitos corredores, onde me perco ou procuro alguém de quem me perdi.

Acordei, ou foi o que pensei... Sem esforço nenhum, sentei- me na cama. Surpreendi-me com a leveza de meu corpo. Onde eu estava? Quem acordara em mim?
Com certeza não era a mulher de sessenta e seis anos de agora. 
Aquela que me olhava, de dentro de um espelho oval, com estranheza,  não tinha muito mais que seis anos, talvez sete.

Levantei. Andei pela casa, que logo reconheci como a de minha infância, descalça, o piso de tábuas enceradas rangendo sob meus pés.

Uma mulher, minha mãe, bem mais moça, mas de olhos cansados e azuis, atarefada, olhou-me, o olhar crítico e, num tom de voz impaciente, reclamou de alguma coisa, provavelmente de eu estar escabelada e descalça. Largou o que fazia e voltou decidida a 'ajeitar'os meus cabelos  ‘espequeados’, que ela se esforçava para manter lourinhos com chá de marcella. 
Estremeci. Sabia que a sessão de trançá-los seguida de choro não se faria esperar. Meu desejo de ficar bonita era mil vezes menor que a capacidade de suportar qualquer dor e desconforto.
E mais tarde teria de aguentar, para meu tormento, os sapatos de verniz que faziam bolhas nos pés. Sempre havia as delatoras bem intencionadas, que vendo-me a correr toda arrumadinha, mas descalça, avisavam prestimosamente: “Sua guriazinha está sem sapatos.” Minha mãe dizia, repetidamente que meus pés ficariam grandes como lanchas. Eu nem sabia o que era uma lancha. Ficaram. Mas proporcionais a minha altura, eu acho. Pois nunca mais parei de crescer... até onde lembro.
Minha mãe. A que estava decidida a me deixar bonita e não desistiria de seu intento, enquanto pudesse, moldava meu cabelo em tranças tão firmes que me fazia pensar que me  deixaria careca e com os olhos ‘puxadinhos’ como os das meninas chinesas. Não fiquei careca, nem com olhinhos orientais... Meus cabelos, de ralos que eram, ganharam volume e meus olhos continuaram redondinhos e cheios de lágrimas.
Minha mãe. A que me comprava sapatos de verniz, bonitinhos, mas duros e inflexíveis, que eu ‘acalcanhava’ e me faziam mancar.
Minha mãe. A que não aceitava que minhas notas não estivessem entre as melhores. Coisa quase impossível para mim, principalmente no que se relacionava a números.  
Minha mãe. A que lia minhas cartinhas do dia das mães, chorando, mas constrangida, pois não queria dar ‘o braço a torcer’. E a quem eu não desistia de tentar comover.
Minha mãe... que não faltava à visita ao cemitério, onde, bem na entrada, estava o túmulo de meu pai. Enquanto ela limpava e arrumava as flores, chorando sempre, vestida em tons de preto e cinza, que envelheciam seus rosto ainda bonito, mas sem vaidades, eu corria entre as lápides, muito contente, fingindo que eram ‘caminhas’. Eu gostava das pequenas, com grades brancas de madeira. Não pensava no que significavam. A morte nem me passava pela cabeça.
Mas também havia a mãe que me alcançava bem cedinho uma mamadeirona com uma chupeta esquisita, que já não existe mais por aí, de borracha e que se adaptava ao gargalo da garrafa de vidro, talvez de um  refrigerante, coisa rara na época, não descartável,  remanescente de alguma festa de aniversário.
páscoa: lembro que foi ótima.
E a mãe que fazia ninhos com caixas de sapato, enfeitadas com  papel colorido, recortado em franjas, que eu ajudava a preparar, e que escondia para que eu os encontrasse de manhã bem cedo. 
E que comprou para mim um piano, embora eu tivesse pedido uma 'gaita', porque uma amiga tinha e eu achava 'a coisa mais linda saber tocar um instrumento que eu pudesse carregar.'
Afinal, piano era um instrumento mais elegante. Diziam meus irmãos. E era bem melhor do que a gaita de boca que ganhara no natal anterior, quando não ficou claro que tipo de gaita eu desejava.
E que me deu, para minha felicidade, um par de tamanquinhos de madeira para andar pelas ruas sem calçamento e embarradas, depois da chuva, e umas 'alparcatas' macias, de lona e corda, para andar em casa.

E que mandou montar uma pracinha de brinquedos para mim, quando completei sete anos.
eu, á direita, com minha prima querida, Tânia, à esquerda

Nós duas: Tânia, muito séria, e eu, para variar, de boca aberta.

E também a mãe que montava uma árvore enorme, feita de galhos de pinheiro de verdade. Os enfeites, sempre os mesmos, pois nada era descartável para minha mãe, eram pendurados com cuidado, num ritual demorado e dolorido, pois invariavelmente eu ficava com os dedos picados pelos espinhos.
Os presentes não eram muitos, mas tudo era transformado em presente, até uma barra de chocolate, ou um estojo de lápis de cor, uma escova nova de dentes ou um livro de histórias, que eu amava demais. E a invariável boneca de louça. Este era o ponto alto da comemoração.
Mas eu gostava mesmo da oração feita, menos por convicção, mais por respeito a uma tradição que, para minha sorte, se prolongou para sempre. A oração entrava no coração, como o leite morno e doce da garrafa-mamadeira ao amanhecer. Infundia em minha alma pequena uma certeza de um amor-alimento  que me nutria e preenchia.

O tempo passou. Como um tapete tecido de cores vivas e inevitáveis sombras.
Rápido demais, pois ainda sonho com a magia dos seis anos, quando  conseguia dançar entre as maria-moles, fazendo de conta que eram ‘violetas imperiais’; quando corria entre as lapides e túmulos, fazendo de conta que a vida era para sempre e a morte não existia, pelo menos ali.

O tempo passou.
Acordei hoje do sonho dentro de um outro sonho, com sessenta anos a mais, mas com seis anos na alma e com saudades de mim e dela, de minha mãe, e de antigos e maravilhosos natais.

quinta-feira, 13 de dezembro de 2012

FLAMBOYANT E FLAMINGOS

Passei pelo pequeno flamboyant que fica em uma esquina a uma quadra do meu apartamento e parei para olhar aquela manifestação perfeita da natureza. Pensei em sua inevitável transitoriedade e veio-me o desejo de fotografa-lo enquanto estivesse florido.
Não fotografei... estava sem máquina fotográfica.
Nem no dia seguinte... esquecera a bendita máquina.
Nem no dia seguinte ao seguinte, por estar com pressa... de quê? nem lembro.
Dias depois, munida de um entusiasmo tardio, e de máquina em punho, fui bater a tal foto... estava sem pilhas.
Depois do depois.... com um estranho sentimento de culpa pelo meu descaso, descobri que a arvorezinha já estava quase sem flores. 
Haviam caído...ou... e aí a imaginação bate asas...
quem sabe, transformaram-se em flamingos e 
levantaram vôo para algum lugar distante.
Nunca saberei.
Ano que vem, estarei mais atenta.

terça-feira, 11 de dezembro de 2012

sábado, 8 de dezembro de 2012

A LUA, UM HOMEM E SEU CÃO E UM POUCO DE IMAGINAÇÃO



esta foto mexeu comigo
busquei a lua, que em em forma crescente,
lembrava uma rede 
estendida no céu

e imaginei como seria se eles pudessem descansar aconchegados na lua.


EMOÇÕES

Hoje a represa dentro de mim ameaça romper. E eu sinto meu coração transbordando e querendo derramar-se pelos cantos de meus olhos encharcados.
E para minha real surpresa, percebo que isto é bom, melhor, infinitamente melhor, que as rachaduras e erosões abertas nele pela longa estiagem de um tempo feito só de sobressalto, solidão e sono, sem emoções, as mais simples.
É um retrato, sim, retrato e a lembrança associada a ele. É uma música, encontrada entre os velhos CDs por acaso, destas que lembram som de cachoeira e vento. É um texto. Um filme. Um livro. E pronto.Eu sinto. Não analiso. Apenas sinto. 
O leito raso de meus olhos alaga e eu me espraio.
Choro. E é bom como caminhar sob a chuva forte, depois de um dia quente e abafado.
Há certos choros que servem para lavar a alma. 
Montagem foto Victoria chuva e sombrinha de imagens do google

Montagem foto da Vic com onze anos e fundo chuvoso de imagens do google.

quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

SONHANDO





Eu não viajo, sonho...
Sonhar 
é um jeito de partir
Sem deixar meu lugar..

Não saio daqui,
Mas eu vou longe
Por lugares que sequer
Conheci.


O que não existe
Eu crio.
O que existe
Recrio
De um jeito
muito louco.

Transformo em velas
Nuvens brancas.
E em mar, um céu azul,
Sem ondas.

O vento,
Se não sopra,
Invento.

Navego de horizonte
Em horizonte
Me deixo ir.

Estendo pontes
Entre este mundo
E o outro
Que suponho.

Não fosse o sonho
E a vida passaria
apenas,
Então, sim, seria 
Como se não vivendo
Eu dormisse.

O sonho é a porta

É sonhando que a alma,
esta que se agita em mim,
enfim desperta.